No curso de formação promovido pelo sindicato, me coube o tema: história da nossa região de Irecê/Xique-Xique, assim como um pouco da nossa história uibaiense.
Até o início dos anos 1800 (século XIX) as nossas serras como a SERRA AZUL, a do MIRORÓS, a do ASSURUÁ eram habitadas apenas por tribos nômades de índios TAPUIAS como os MOCOAZES assim como por negros e cafuzos quilombolas que aproveitavam as riquezas, inclusive de ouro, do Assuruá para viverem em “liberdade” e relativa bonança já que podiam plantar, caçar, coletar e também comerciar clandestinamente com “brancos” e demais homens livres das beiradas do rio São Francisco onde já havia vários povoados e arraiais como Xique-Xique e vilas como Barra do Rio Grande.
No início do século XIX nossa caatinga era desabitada completamente, era vista como um ambiente imprestável (sem serventia nenhuma, segundo consta nos documentos da época). Mas vários ex-garimpeiros e pequenos fazendeiros foram descendo a serra no decorrer do século e “domando” a caatinga. A partir da década de 40 do século XIX houve uma pressão maior sobre o geoambiente da nossa região (serra, beira de rio e caatinga) principalmente devido ao relativo grande número de pessoas que ocuparam o ASSURUÁ e as vilas na década anterior. Passada a “febre do ouro” no trecho que forma o atual Gentio do Ouro, dezenas de ex-garimpeiros, pequenos criadores e agricultores resolveram ficar na nossa região. O aumento populacional demandou mais terras e mais recursos naturais, foi aí que a CAATINGA se tornou inevitavelmente um ambiente a ser conquistado e viabilizado e assim aos poucos isso foi se tornando realidade. Na virada do século, nossa caatinga já estava “domada” e integrada aos outros geoambientes gerando um fluxo e refluxo de gente, mercadorias e “informações” diversas.
UIBAÍ, antiga Canabrava do Gonçalo nasce de uma dessas “informações” e desses desafios. Isso se deu na década de 40 do séc.XIX, uma década emblemática, década em que um homem poderoso chamado Ernesto Rocha Medrado passou a negociar suas terras adquiridas aos representantes do mega latifúndio da CASA DA PONTE (dona de metade da Bahia entre 1600- 1700).
Quem adquiriu o “Sítio Canabrava” foi VENCESLAU PEREIRA MACHADO e seu genro-sobrinho JOSÉ PEREIRA DA ROCHA em 26-03-1847. Eles eram pequenos criadores e agricultores do ASSURUÁ e de lá trouxeram para o bouqueirão do Riacho Canabrava, família, animais, diversos pertences, inclusive escravos.
Os 12 filhos de Venceslau e os filhos deles construíram um povoado que passou a crescer e atrair gente de outros lugares, sobretudo a partir de 1904 quando se deu o advento da influência da “maniçoba” que mudou profundamente a história de Uibaí em todos os sentidos, no entanto se olharmos mais acuradamente veremos que o lugar ainda continua politicamente dominado pelos descendentes dos dois patriarcas, e o “racha interno”, os conflitos atuais tem raízes nos primórdios do lugar onde sempre duas correntes políticas disputaram o poder sócio-político. Superar essa dicotomia “pobre” e “violenta” é um desafio de todos os uibaienses de sangue rocha-machadiano ou não, principalmente daqueles que com seu trabalho faz a roda da história girar. Ela precisa girar a favor da classe trabalhadora daqui e do mundo.
Por: CELITO REGMENDES – Professor, historiador e geógrafo uibaiense.
Nenhum comentário:
Postar um comentário